Vive Feliz


Havia um parque pouco visitado pelas pessoas parecia ter algum segredo que afuguentava quem lá queria visitar.
Eu era nova na cidade não conhecia muitos lugares e sempre gostei de lugares mais calmos e não muito frequentados por muitas pessoas principalmente para ler os meus livros.
Adorava o cheiro daquele parque dava-me um quentinho no coração, adorava o aconchego que ele trazia-me, toda essa mistura de sensações junto com o cheiro dos livros novos deixavam-me com mais vontade de ali ficar.
Todos os dias virava uma rotina de ficar simplesmente ali a observar os passáros a fazer os ninhos e os esquilos procurando alimento.
Até que um dia tudo passou de normal a estranho.
Eu estava no autocarro a caminho da escola, as previsões metereológicas eram de chuva torrencial e muito frio parecia que nem o tempo estava a meu favor.
Como sempre levava um livro comigo e enquanto lia senti como uma tontura ou como se todas as letras ficassem distorcidas.
Quanto mais eu concentrava na leitura mais a imagem distorcia até  começar a sentir uma força sobrenatural puxar-me para dentro do livro quando dei por mim fui parar para um espaço escuro, vazio e muito frio.
Fiquei a perceber que fui para dentro de um livro, mas na verdade estava dentro da minha mente.
Aos primeiros instantes custou-me muito para perceber em que dimensão eu estava.
Coloquei-me de joelhos e mãos na cabeça querendo saber do porquê de sentir-me presa a algo, ganhei coragem levantei-me e gritei:" Quem está aí?", ninguém respondeu-me e o eco da minha magoava os meus ouvidos.
Assim que manti o equílibrio alguém empurrou-me e tive a sensação que caí para dentro de um lago e aos poucos e poucos ia afogando para bem fundo.
Enquanto chegava ao fim do lago via toda minha vida a passar por mim como fotografias, vi todas as vezes que não telefonei para os que amava, as vezes que disse sim querendo dizer que não, todas as vezes que podia ter encontrado um amor de verdade ou ter aproveitado para amar-me ainda mais, todas as vezes que evitei um bom pedaço de bolo por pensar que não ia parecer  como as raparigas da televisão.
Todas as vezes que não aproveitei apreciar a chuva no inverno bebendo um cházinho na janela.
Vi e doeu-me muito mais as palavras que não disse de boca cheia a quem merecia e as frases que nunca cheguei a terminar.
Por mais que agora nadasse para a superfície á procura de sair de todo esse pesadelo, o arrependimento engolia-me cada vez mais.
Tentei lembrar-me de como seria possível sair dessa situação, fechei os meus olhos e comecei achar na minha mente a frase que fazia meu coração pulsar e que dava vida a minha consciência : " O medo  te mantém prisioneiro. A esperança te liberta", sempre que penso nesta frase não tem forma de ter mais força.
Abri os olhos e estava de novo no autocarro com as mesmas pessoas, a chuva, o mesmo livro e a mente de volta.
Tudo isso como um sinal que deveria deixar de viver sem medo, deveria viver para mim, satisfazer todas as minhas necessidades e acima de tudo viver feliz.

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